Editorial: Que não sejamos uma república de paus-mandados
O governo que se despede deixa uma marca preocupante: a
banalização dos cargos comissionados. Embora seja legítimo e previsto em lei
que o governante escolha membros de seu grupo político ou aliados para ocupar
essas funções, o que vimos em nossa cidade ultrapassa o limite do aceitável.
Não se trata apenas da nomeação de pessoas com vínculos políticos, mas do
comportamento de alguns secretários e diretores que deveriam representar os
interesses da população, mas esses alguns se comportaram como meros executores
de ordens, muitas vezes caprichosas e alheias ao bem comum.
Os votorantinenses que ocupam cargos públicos precisam
entender que estão a serviço da cidade, não de um chefe ou partido. É
necessário compreender que esses cargos têm data e hora para começar e
terminar. E como ficam as relações que foram arranhadas, maltratadas e
ignoradas? Ordem errada não se cumpre. Ordem desonesta não se cumpre. Ordem de
vingança não se cumpre. Submeter-se a esses desmandos, sob o pretexto de
preservar o cargo ou o status, é trair a confiança da população e abrir mão de
princípios fundamentais.
A hierarquia, quando mal compreendida, torna-se uma
ferramenta de opressão. Sob o pretexto de "manda quem pode, obedece quem
tem juízo", nascem as arbitrariedades e as autocracias. Mas será que
hierarquia deve ser apenas sobre quem manda? Será que não deveria ser sobre
coordenação, colaboração e respeito mútuo?
Uma cidade verdadeiramente democrática não pode estar à
mercê de paus-mandados. Governar é liderar pelo exemplo, pela competência, pela
capacidade de ouvir, dialogar e construir soluções coletivas. Um bom líder
delega responsabilidades com confiança, motiva sua equipe e reconhece a
importância de cada membro como agente de mudança.
O poder real está na coletividade, no compartilhamento de
ideias, na soma de habilidades e experiências. Quando há liberdade e confiança,
a produtividade floresce, e o que parecia impossível torna-se realidade.
No entanto, transformar esse sonho organizacional em prática
é tarefa para poucos. Exige coragem, integridade e compromisso com o bem comum.
A pergunta que fica é: quem se habilita?
Que o passado nos ensine e que o futuro não repita os erros
que nos transformaram, em momentos críticos, em uma republiqueta de
paus-mandados. Que tenhamos líderes e servidores que saibam respeitar a
verdadeira essência de sua função: servir à população, não a interesses
pessoais ou políticos. A história cobra, e a cidade merece mais.
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