Editorial: Onde estão os pretos de Votorantim?
Neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, Votorantim e
o Brasil são convidados a refletir sobre a presença, a história e a luta da
população negra. Segundo o Censo de 2022, 10,2% da população de Votorantim se
autodeclara preta, ao lado de uma maioria parda, com 45,3%, brancos, com 43,5%,
além de 0,8% de indígenas e 0,4% de amarelos. Embora esses números mostrem a
diversidade étnico-racial da nossa cidade, eles também nos levam a questionar:
onde estão, de fato, as histórias e as vozes dos negros de Votorantim?
Historicamente, Votorantim compartilha um passado
diretamente ligado a Sorocaba, uma região marcada pela prática escravocrata nos
séculos XVIII e XIX. Nesse contexto, Manoel Fabiano de Madureira, o primeiro
grande fazendeiro da área que hoje é Votorantim, foi um pioneiro nas terras que
atualmente formam a Serra de São Francisco e, seguindo a prática comum entre
fazendeiros da época, utilizava mão de obra escrava de negros para atividades
em suas terras. Embora não existam registros detalhados sobre o uso da
escravidão na propriedade de Madureira, o contexto histórico sugere que ele
mantinha essa prática, como era predominante na região.
Além de Madureira, figuras como o Brigadeiro Rafael Tobias
de Aguiar também exploravam a mão de obra escrava de negros em suas fazendas, e
Sorocaba tornou-se um ponto central para as feiras de muares, onde o comércio e
as atividades econômicas dependiam fortemente do trabalho negro. Esse passado
moldou profundamente a formação econômica e social que Votorantim herdou ao
longo dos séculos.
Apesar da emancipação de Sorocaba em 1965, nossa cidade
ainda carrega essa herança, que influenciou a transição de uma economia
sustentada pelo trabalho escravo para uma indústria que, a partir do final do
século XIX, passou a empregar imigrantes e trabalhadores locais com o
crescimento das Indústrias Votorantim. Mesmo com o fim da escravidão em 1888,
as marcas desse período ainda estão presentes nas desigualdades sociais e
econômicas da região.
Hoje, ao olharmos para a representatividade dos negros em
Votorantim, o número de 10,2% da população nos leva a refletir sobre a inclusão
real dessa comunidade na cidade. Onde estão os negros nas posições de
liderança, nos empreendimentos locais, na valorização da cultura e nas
oportunidades que a cidade oferece? A diversidade étnica de Votorantim, que
inclui pardos, brancos, indígenas e amarelos, não se traduz plenamente na
igualdade de acesso e visibilidade que todos esses grupos merecem.
Neste Dia da Consciência Negra, é essencial que Votorantim e
o Brasil reconheçam a vasta riqueza cultural e os elementos africanos que
moldam nosso cotidiano e estão presentes na culinária, na música e na dança, na
religião e espiritualidade, nas linguagens e expressões, nas festividades e
celebrações, na moda e estética, e na resistência e luta por direitos.
E não são poucos os homens e mulheres negros que fazem parte
da história do nosso país, seja na literatura, na justiça, na ciência, nas
artes, ou mesmo em Votorantim, onde esses negros que fazem a diferença também
estão.
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