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    Colhendo os frutos negativos da educação positiva: uma “trend” perigosa


    Colhendo os frutos negativos da educação positiva: uma “trend” perigosa

    Por Luciana Abreu

    Nos últimos dias, uma nova “tred” tomou conta das redes sociais: "colhendo os frutos negativos da educação positiva". No centro dessa discussão, vemos mães relatando desafios e frustrações com a educação de seus filhos, levantando a questão: até que ponto a parentalidade positiva tem sido bem compreendida e aplicada?
    A parentalidade positiva, amplamente discutida que já é lei desde março de 2024 (Lei nº 14.826/2024), propõe uma educação sem violência física ou psicológica, baseada no respeito, no direito de brincar, no diálogo e no estabelecimento de limites firmes e gentis. No entanto, o que temos observado é que, com o crescimento de perfis online abordando o tema, muitos pais têm buscado informações em fontes que nem sempre são confiáveis, gerando confusões que comprometem a efetividade dessa abordagem.
    Um dos maiores riscos que essa tendência revela é a confusão entre parentalidade positiva e permissividade. Na tentativa de evitar o autoritarismo, muitos pais acabam adotando um estilo permissivo, onde a ausência de limites e de orientação clara prevalece. Crianças e adolescentes precisam de limites, precisam de modelos de comportamento e, acima de tudo, precisam de segurança emocional para se desenvolverem com autonomia e resiliência. E é aqui que entra o papel crucial dos pais como guias firmes, porém gentis.
    A parentalidade positiva não é sinônimo de "deixar fazer tudo". Pelo contrário, ela se baseia em limites saudáveis que proporcionam à criança a segurança de saber que há alguém supervisionando, estabelecendo fronteiras e guiando seu desenvolvimento. No Brasil, a Lei Menino Bernardo (Lei 13.010/2014) é um exemplo claro de como a parentalidade positiva foi incorporada à legislação, proibindo o uso de castigos físicos e outras formas de violência no processo educativo.
    Porém, esse reconhecimento da parentalidade positiva na lei não exime os pais da responsabilidade de orientar e impor limites. Crianças e adolescentes precisam aprender a lidar com frustrações, entender que há regras e, mais importante, precisam ter modelos de comportamento para seguir. Ser "firme e gentil" significa proporcionar uma base segura para que as crianças se desenvolvam, e essa base envolve disciplina, supervisão e acompanhamento contínuo.
    Na tentativa de não serem autoritários, muitos pais acabam caindo no outro extremo: a permissividade. Essa abordagem, no entanto, se mostra prejudicial, pois a ausência de limites pode gerar insegurança, comportamento impulsivo e falta de respeito pelas regras sociais. Estudos, como os conduzidos pela psicóloga Diana Baumrind, mostram que crianças educadas de forma permissiva tendem a apresentar mais dificuldades em lidar com frustrações, maior propensão a comportamentos de risco e menor autocontrole.
    A parentalidade positiva, quando mal compreendida, pode ser confundida com esse estilo permissivo. Mas é importante reforçar que a verdadeira parentalidade positiva busca o equilíbrio entre o carinho e a firmeza, entre a liberdade e a responsabilidade.
    Crianças precisam de limites. Eles são como bordas de segurança que orientam o desenvolvimento emocional, social e cognitivo. Pais que aplicam a parentalidade positiva corretamente sabem que limites claros e consistentes são essenciais para o crescimento saudável de seus filhos. E esses limites não precisam ser impostos com violência, mas sim com empatia e firmeza.
    Por exemplo, o uso de "time-ins" ao invés de castigos, o diálogo ativo, a escuta empática e a mediação no uso de tecnologias são formas de impor limites sem recorrer ao autoritarismo. Ao fazer isso, os pais estão ensinando aos filhos que toda ação tem uma consequência, e que o respeito pelas regras é uma forma de convivência em sociedade.
    Mais do que impor regras, os pais são os maiores exemplos de comportamento que seus filhos terão. Desde cedo, as crianças observam como seus pais lidam com conflitos, como se comportam em situações desafiadoras e como tratam as outras pessoas. Ser um exemplo de respeito, empatia e responsabilidade é a melhor forma de ensinar esses valores às crianças.
    Pais que supervisionam o uso de telas, que incentivam atividades que promovem resiliência e que ensinam sobre o valor do respeito estão, na verdade, criando um ambiente no qual seus filhos podem crescer de forma equilibrada e saudável promovendo o bem-estar de toda a família.
    Leituras Recomendadas: Aprofundando o Conhecimento
    Para pais que desejam se aprofundar e aplicar corretamente a parentalidade positiva, recomendo algumas leituras essenciais:
    1. Disciplina Positiva – Jane Nelsen
    2. Como Falar Para Seu Filho Ouvir e Como Ouvir Para Seu Filho Falar – Adele Faber e Elaine Mazlish
    3. Criando Filhos Emocionalmente Saudáveis – John Gottman
    4. Limites com Amor – Tania Zagury
    Esses livros trazem estratégias práticas para os desafios diários da criação de filhos, sempre com base em princípios de respeito e empatia, sem abrir mão dos limites que são fundamentais para o desenvolvimento.
    Educar nunca foi uma tarefa fácil. Hoje, com o excesso de informações disponíveis, o desafio se torna ainda maior. No entanto, buscar fontes confiáveis e embasadas em ciência é essencial para que os pais possam aplicar a parentalidade positiva de maneira correta e eficaz.
    A parentalidade positiva, quando bem compreendida e praticada, oferece às crianças um ambiente seguro e enriquecedor, onde elas podem desenvolver sua autonomia, resiliência e habilidades sociais, sempre dentro de limites claros e amorosos. Como pais, somos as bordas de segurança de nossos filhos, e é nossa responsabilidade fornecer o suporte emocional e os limites necessários para que eles possam crescer e florescer.
    Contato: adolescenciasemtraumas@gmail.com
    (Os artigos assinados não representam, necessariamente, a opinião do jornal)




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