Dom James Tavares OSF S
Coluna Dom James Tavares - Quem são os anglicanos?
.
.
Embora sendo a segunda denominação cristã presente em terras brasileiras desde 1810, por ocasião do Tratado de Comércio e Navegação entre as coroas brasileira e britânica, a Igreja Anglicana ainda é muito desconhecida para a maioria dos brasileiros. Talvez isso se dê pelo fato de que os anglicanos não são prosélitos, em sua essência. Isso significa que o acolhimento se dá a qualquer pessoa cristã, sem usar de nenhum recurso para fazer com que se “converta”, ou melhor, mude de igreja. Ao longo de quase 90 anos os anglicanos não podiam abrir as portas de suas igrejas para os nativos brasileiros. O acordo da coroa brasileira com a coroa inglesa só permitia os cultos anglicanos aos súditos de sua majestade britânica que residiam, trabalhavam ou estivessem de passagem pelo Brasil. Apesar de tentativas sem sucesso em anos anteriores, somente a partir de 1890, após a independência do Brasil, a Igreja Episcopal dos EUA, ramo estadunidense do anglicanismo, enviou dois missionários ao Brasil para um trabalho missionário. Lucien Lee Kinsolving e James Watson Morris vieram do Seminário Teológico da Virgínia e fixaram residência em Porto Alegre, onde naquele mesmo ano realizaram a primeira celebração em língua portuguesa. A partir daí, sob o nome de Igreja Episcopal (Anglicana), se espalhou por grande parte do território brasileiro.
Após mais de um século, surgiram vários grupos ou denominações episcopais ou anglicanas. Na maioria das vezes por divergências de doutrina ou por outras motivações internas. O que podemos afirmar é que entre tais grupos não há uma uniformidade no que se refere a alguns aspectos doutrinais e até mesmo litúrgicos. Como a forma de governo no anglicanismo é episcopal, ou seja, um bispo, com a aprovação de um sínodo ou concílio, é a autoridade máxima na sua diocese. As decisões são tomadas em colegiado, em que, juntamente com o bispo, há a participação do clero e dos leigos, sendo mais próximo de um sistema parlamentarista.
Muitos perguntam: Como é a liturgia que vocês celebram? Vocês têm missa ou culto? O clérigo é chamado de padre, pastor ou ministro? Tudo isso vai depender do contexto no qual a comunidade está inserida. Como a Igreja Anglicana, desde 1534, com a Reforma Inglesa de Henrique VIII, tornou-se independente da Igreja de Roma, mas não aderiu totalmente à Reforma Protestante de Martinho Lutero, manteve as tradições católicas desde a evangelização das Ilhas Britânicas, nos primeiros séculos da Era Cristã, dizemos que somos a Via Media, que significa um caminho, um modo de ser, católico e reformado ao mesmo tempo. Em algumas comunidades, de modo especial no Nordeste do Brasil, usa-se os termos culto, pastores e, ao mesmo tempo, no Sudeste encontramos comunidades que utilizam os termos missa e padre. No entanto, a maioria dirige-se aos que são ordenados (presbíteros e diáconos) com o termo “reverendo”.
O que importa é que, além dos termos, a forma de ser e de celebrar dessa ou daquela comunidade é que vai ser o principal do anglicanismo. Os sacramentos do Batismo e da Eucaristia (Missa, Ceia do Senhor) são aceitos e valorizados por todos os grupos anglicanos no mundo inteiro. De modo geral, os demais atos sacramentais (Confirmação ou Crisma, Matrimônio, Penitência ou Confissão, Unção dos Enfermos e Ordem) também são celebrados.
E, sobretudo, o acolhimento a todas as pessoas sem fazer julgamento é a forma que todos são recebidos em nossas igrejas. O convite à mesa eucarística, ceia do Senhor, é oferecido a todos os presentes, independentemente de onde tenha sido batizado ou a que denominação pertença. É desse modo que adoramos a Deus, que nos congregamos como irmãos e que servimos ao próximo, de modo especial aos que mais precisam. Aos que desejam conhecer um pouco mais do anglicanismo, podem vir sem receios, pois estaremos de braços abertos para acolher a todos.
*Bispo titular da Diocese Anglicana de Votorantim, bacharel em Teologia, Licenciado em Filosofia, Pedagogia e Geografia. Pós-graduado em Educação. www.anglicanos.org.br
COMENTÁRIOS